Nos últimos meses, a produção de cacau no Brasil voltou ao centro das atenções, não apenas por sua importância econômica, mas pelos riscos que vêm se acumulando nas plantações, principalmente nas regiões Norte e Nordeste do país. A monilíase, praga devastadora que já ameaça há anos a produção cacaueira em diversos países, agora preocupa seriamente produtores e autoridades brasileiras.
A importância do cacau brasileiro
O Brasil é o sexto maior produtor de cacau do mundo e tem uma longa tradição na cultura do fruto, com destaque para o Pará, maior produtor nacional, e a Bahia, tradicional berço da lavoura cacaueira. Além de abastecer o mercado interno de chocolates e derivados, o cacau brasileiro possui grande potencial de exportação, sendo parte essencial da economia de muitas cidades produtoras.
A chegada da monilíase
A monilíase, causada pelo fungo Moniliophthora roreri, ataca diretamente os frutos do cacaueiro, causando apodrecimento e perdas significativas de produtividade. Embora já seja conhecida há décadas em outros países produtores, foi identificada oficialmente no Brasil apenas em 2021, inicialmente no Acre. Desde então, sua presença tem avançado silenciosamente, chegando a novos estados e preocupando a cadeia produtiva.
Em 2025, a situação se agravou com registros da praga em áreas do Amazonas, Rondônia e, mais recentemente, ameaçando plantações no Pará, maior produtor nacional. O avanço rápido da doença ligou o sinal de alerta nos órgãos de defesa agropecuária.
Impacto socioeconômico
Segundo a Comissão de Agricultura do Senado, que realizou uma audiência pública nesta semana para debater o tema, a monilíase já afeta diretamente milhares de famílias que dependem do cultivo de cacau. Pequenos produtores, responsáveis por grande parte da produção nacional, correm o risco de ver sua principal fonte de renda comprometida.
Além do impacto direto nas lavouras, o avanço da praga pode gerar efeitos em cadeia: queda na oferta, aumento de preços, dificuldades para a indústria chocolateira e até perda de competitividade do Brasil no mercado internacional.
Medidas emergenciais
Durante a audiência no Senado, produtores e especialistas pediram ações coordenadas e urgentes do governo federal:
Reforço da vigilância fitossanitária, para identificar rapidamente novas áreas afetadas;
Campanhas de orientação técnica, ensinando os produtores a reconhecer e combater a doença;
Incentivos à pesquisa, buscando soluções biológicas e variedades resistentes;
O que está acontecendo?
A maior parte do cacau mundial vem de países da África Ocidental, especialmente Costa do Marfim e Gana, responsáveis por cerca de 60% da produção global. No entanto, estes países estão sofrendo com eventos climáticos severos, como secas prolongadas, chuvas irregulares e aumento das temperaturas, o que compromete o desenvolvimento das plantações.
Além disso, doenças como a vassoura-de-bruxa e o fungo Moniliophthora perniciosa estão se espalhando em várias lavouras, reduzindo ainda mais a produtividade. Muitos pequenos produtores, que já lidavam com margens de lucro apertadas, não têm recursos suficientes para investir em defensivos agrícolas ou práticas de manejo mais modernas, agravando o problema.
O impacto nos preços
Com a oferta de cacau em queda, os preços dispararam nas bolsas internacionais. Só em 2024, o preço da tonelada de cacau em Nova York e Londres chegou a níveis recordes, superando a marca de US$ 10.000 por tonelada em alguns momentos. Esse aumento vertiginoso já está sendo repassado aos consumidores, que encontram barras de chocolate, bombons e outros derivados com preços cada vez mais altos nas prateleiras.